domingo, 13 de setembro de 2009

Enfim, o outono...



Cara Amiga,
Primeiramente, fiquei muito feliz ao saber de sua louvável recuperação... Parabenizo-a, também, pelas pequenas e significativas mudanças que operou em si mesma. Segundo, devo pedir perdão por ter passado tanto tempo sem dar-lhe notícias... Sinto muito. Tentei escrever a você mas, por diversas vezes, encarei a folha em branco e não pude pensar em nada realmente importante, a usar como desculpa para maculá-la. (Ou talvez, só esteja usando esse argumento como desculpa para minha inação.)
De uma forma ou de outra, durante esse tempo sem nos falarmos, muitas coisas aconteceram... Completei mais uma primavera amando, sofrendo, trabalhando, chorando e, mais uma vez, amando. Estou mais velho e, de certa forma, renovado. Não sei a que devo essa renovação. Se devo à minha inocente amada; à minha desconhecida amante; às tardes modorrentas que passei entre as antigas construções, fracamente iluminadas; às canções que dediquei à noite; aos amigos risonhos e maduros; a você, que me brindou com sua ausência; ou a mim, que fui durante anos expectador da minha própria existência e, agora, propunha-me uma mudança.
Numa dessas tardes de que lhe falei, observando as coisas e as pessoas, notei que as ávores estavam na fase do ano em que devem trocar de folhas... A maioria delas já estava quase sem folhas. Abandonavam, deliberadamente, cada uma delas, como se não fossem importantes e, ao mesmo tempo, como se fossem obrigadas a fazê-lo, por algo que parecia estar além de suas vontades... Senti sua dor. E vi o descaso com que eram tratadas. Ninguém mais parecia se importar com sua dor ou sentir sua angústia. Confesso que me envolvi demais com aquelas plantas. Uma, em especial.
Resolvi revisitá-la, algumas semanas depois. Sentei-me, pois não consegui fazer com que minha mente recuperasse o controle sobre as minhas pernas... Ela estava lá. Sem flores, sem folhas, sem vida... Era difícil acreditar... As vezes penso que esperava que seu fim fosse diferente. Que ela encontraria um motivo para lutar novamente por si mesma, para recuperar tudo que havia perdido... Mas não. Não lutara. Nem sequer se arrependera de se ter abandonado. Ficara lá, todos os dias, vendo-se desfalecer... Fiz a ela um pedido: 'por favor, não morra. Não me deixe aqui, sem você'. E como era de se esperar, ela nada disse. Então, virei-me e fui embora. Não poderia suportar assistir o seu fim.
Mesmo sabendo que só encontraria um esboço do que fora, um dia, aquela árvore, decidi revê-la uns meses mais tarde. Qual não foi minha surpresa ao encontrá-la frondosa e coberta, pelo que pude ver, de lindos botões de flores!!! Você pode entender? Era a vida voltando! Era o motivo pelo qual aquela, e tantas outras árvores, tinham se abandonado! Não pude conter um assomo de euforia ao vê-la assim, tão bela, radiante. E me aproximei. Vi que suas novas folhas estavam cheias de um viço, que faltava às antigas. Então pude perceber que aquela árvore que passei tanto tempo observando era, na verdade, eu mesmo. E que essa brusca mudança se operou em mim, por mim. Curioso, não? Comecei a viver, quando morri.
No fundo, essa é a essência das coisas na vida. Todo começo só é possível, se foi antecedido por um fim. E o fim já traz, em si, o anúncio de um começo. Tudo que começa tem um fim. E o que finda, o faz em detrimento de um novo começo. Há, inclusive, quem pense que o começo é apenas o início de um fim. Agora vejo que tenho uma nova oportunidade. A vida me sorriu novamente. Eu, apenas, vou retribuir.
Tenho perdido muito tempo tentando esquecer as coisas que realmente valem a pena. Esforçando-me em esquecer do meu passado, dos meus medos, dos meus sonhos, das minhas metas. Fui deixando tudo isso para trás. E hoje vejo que precisava fazer isso, para que brotassem novos sonhos, novas metas. Não abandonarei meu passado, afinal ninguém pode viver sem raízes... Não esquecerei do que me fez ser quem hoje eu sou. Mas, me darei a oportunidade de viver novas experiências. De recomeçar.
Sinto-me um homem afortunado por ter em mim e perto de mim, pessoas tão especiais como você. Parabéns pela nova fase.
Lembre-se: Tudo começa com um fim.
Meus cumprimentos à família.
De seu eterno amigo,


Aprendiz.

terça-feira, 31 de março de 2009

A rosa dos sonhos...


Abri os olhos... Uma tênue faixa de luz desponta no horizonte e atravessa a janela que estava aberta, já à sua espera, iluminado fracamente o cômodo... Então, pude ver mais claramente... Ali, a apenas alguns atrevidos centímetros de mim, estava ela. Como era linda... Seus cabelos, de uma cor única e inominável, emolduravam sua face... Tão serena... Tão feliz... Lembrei de quanto tempo eu desejei ver essa cena... Ver sua cara amassada... Ver as suaves linhas de seu rosto, formando uma imagem tão harmônica que chega a ser perfeita... Seus cílios se tocando e entrelaçando... Seu nariz de proporções exatas... E seus lábios, que esboçam o sorriso proporcionado por um sonho bom... Tive ciúmes desse sonho. Queria que todos seus sorrisos fossem para mim... Será que poderia roubá-lo com um beijo? Não não poderia arriscar acordá-la. Então, me detive a admirar novamente seu corpo... E que corpo! Sem perceber, prendi a respiração por um instante... Sua pele, seu cheiro, suas curvas... Tudo na medida exata. E ela, perfeita, estava ali, a meu lado. E tão próxima... Seu cheiro invadia minhas narinas, me deixando tonto... Percebi que meu corpo estava reagindo à sua presença... Notei, não tão surpreso quanto deveria, que estava extremamente excitado... Então, sem que eu tenha feito um movimento sequer, ela abriu os olhos e sorriu pra mim. Que sorriso! Fiquei sem fôlego por um instante... "Bom dia!", foi o que ouvi. Ela, então deu-me um beijo tão apaixonado, que não resisti... Puxei-a para mais perto do meu corpo, queria que ela sentisse a urgência em possuí-la, no meu corpo. Seus braços, tão frágeis, envolveram-me pelo pescoço, e seus beijos me mostraram que ela sentia a mesma urgência que eu. Desejei dá-la um prazer nunca dantes experimentado... Queria fazê-la sentir-se como eu, quando ela sorri ou me beija, fazendo com que eu desejasse que o mundo acabasse naquele momento. Que eu poderia morrer de tanto prazer... Desvencilhei-me delicadamente de seu abraço e passei a beijar seu pescoço, seu colo, seus seios... Um sabor que nem o maná dos deuses tem... Deixei que minhas mãos fizessem o mesmo caminho que percorri com os lábios e pude sentir um leve tremor de seu corpo sob meus dedos, enquanto seus olhos se cerravam novamente... Então, continuei seguindo o caminho, que certamente me levaria ao paraíso... Gentilmente, afastei uma de suas pernas e pude sentir o toque aveludado de seu órgão, como uma rosa em botão... Toquei-a devagar e delicadamente, porém sem hesitar... Pude sentir suas pétalas, umedecidas pelo orvalho, se abrindo... Esperando... A textura da rosa era tão agradável, que desejei, também, sentir seu sabor... E quando meus lábios tocaram a superfície de suas pétalas, pude sentir o orvalho, ali presente... E tinha um sabor maravilhoso... Segurei-a firme, empenhada na tarefa de extrair dali todo o líquido que houvesse, como se minha vida dependesse disso. Senti o corpo de minha amada arqueando-se, sua respiração entrecortada, então previ o advento do momento mágico...
Depois do êxtase, seu corpo desfaleceu a meu lado, a respiração ainda ofegante... E disse-me com a voz carregada de desejo e de paixão: Eu te amo...!
Então acordei. Que felicidade!
E que decepção... Ninguém acreditaria, mas eu vi a sua rosa desabrochar...
É, sou apenas mais um que vai tentar voltar pro mesmo sonho...

sábado, 28 de março de 2009

Uma dolorosa descoberta...

Amiga, sinto que nossa conversa foi mais reveladora do que poderíamos imaginar...
Seria obra do acaso, encontrar em você o que havia perdido em mim?
Disse-lhe que o Amor, esse vil sentimento, não poderia existir, porque os seres humanos são incapazes de desenvolver tal sentimento... Como isso seria possível, se essas palavras (antes temidas), são ditas com tanta frequência e facilidade? Então seria isso, o Amor? Algo tão volátil, comum, fácil de se perder e mais fácil ainda de se trocar ou ser trocado? É por isto que todos anseiam? Ser mais um a ouvir: ''Eu te amo''?
Mas enganei-me.
Tu, com tuas belas e inesquecíveis palavras me mostraste que, na verdade, são poucos os que amam verdadeiramente. Que se entregam completamente... E que decidem viver o amor plenamente... Por que és sempre tão sensata?
Confesso que tive medo. Sim, medo. Medo de me aventurar numa jornada que não terá volta. Medo de descobrir que todos os sorrisos foram perdidos para sempre... Que todos os sonhos não mais se realizarão... Que não poderia suportar a dor, já iminente... Que respirar não seria o suficiente para manter-me vivo...
Tu, que amas tão intensamente, sofres tão profundamente, vives tão completamente, hoje estás calada. Estás calada, sentindo a dor latejante causada por esse dito amor. Como podes fazer isto? Acaso esqueceste que te preciso? Acaso esqueceste que estou aqui a te ouvir? A esperar por ti?
Parti a tua procura, vi teu sofrimento, senti a tua dor, e ainda assim me dizes que 'valeu a pena'?
Não entendi, à época, o porquê dessa satisfação. Como alguém pode amar tanto, sofrer tanto e, ainda assim, não desejar ardentemente que nada disso tivesse acontecido?
Hoje, amiga, começo a perceber o motivo.
Amor, minha cara.
O amor não têm sentido. Não tem cura, nem remédio.
O amor, na verdade, não é racional, para ter sentido. Nem é doença, para ter cura ou remédio.
No entanto ainda não consigo, na minha ignorância, defini-lo.
Farei então o que posso fazer: senti-lo!
E o medo? Ah! Este que procupe outro hospedeiro! Não o quero mais tolhendo as minhas oportunidades de ser feliz... Ainda que por um instante...
Não quero mais ser expectador da minha vida. Basta!
Cansei de ser comedido. De pensar uma, duas, três, quatro, infinitas vezes antes de agir, para no fim, não fazer absolutamente nada!
Quero viver plenamente e amar desesperadamente, em todos os momentos. Quero ter a oportunidade de errar, sofrer, cuidar, sonhar...
Quero poder sentir uma dor quase insuportável e dizer: ''É... Valeu a pena''

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